26.11.08

Imperativo Ame

Enquanto eu não fujo daqui eu preciso te contar, menino. É preciso que você aproveite todo o ímpeto do amor. Não se sinta receoso, a vida lhe mostrará mais dentes do que as sete cabeças desse bicho amor. Mostre a cara dura e se deixe vencer por ele, caia duro, pálido, frio. Ceda a seus pedidos, por mais que te negues a cada vez. Acabarás esgotado, perdido, desnorteado, com o estômago vazio, mas será tua a glória dos vitoriosos que se deixaram leprosar-se por chagas tão profundas. Quando amares verá nos olhos do ser amado a vastidão negra que tem a cor do amor. A vastidão do infinito, do desconhecido; buraco negro que te sugará toda vivacidade. Deixa-se envelhecer, menino, não tema por ignorância, seja leal às minhas palavras. Quando fores para a cama com alguém chupa-lhe todo suor com a sede de quem atravessa o deserto; não lhe deixe nada, suga-lhe tudo possível, leve dela apenas aquilo que ela precisa para viver, o resto deixe por conta da casa. Saiba que te levarão muito mais do que pensas em roubar das almas amadas, te deixarão sucumbindo em meio à vastidão negra. Então não te acanhe de matar os seres amados: use tua língua para isso. Vingue-se dos que te matarão por abandono, por decepção, por desapego, por desilusão ou pior, por pena. Jogarão em cima de ti, criança, cachorros ferozes capazes de eximir-lhe toda matéria viva. E o que tu faz? Deixa-se ser preza fácil, pois, se não deixares, o tempo cuidará de fazer de ti o mais intragável dos seres terrestres. Sem amor tu serás uma massa fétida, deixada ao vento para que se perca o cerne. Menino, nunca deixe de acreditar nas palavras que lhe jurarem, mesmo sabendo que são todas falsas. Faça-se de despercebido, finja que não é contigo que fala tua consciência avisando do perigo que é o amor. Siga sendo um completo palerma, um idiota que acima de tudo acha que alguém nesse mundo pode ser amável. Não há. Porém é preciso alimentar a esperança de que tudo poderá ser pleno. E não será. Então, garoto, iluda-se. Feche os olhos para a perversa verdade, conte-lhe histórias para dormir e sonhe em paz com os extraterrestres, os seres amáveis. Saiba ainda que eu te amo. Conheço-te há dez minutos, mas seria capaz de morrer por ti. Teu silêncio é como a cor do amor, vastidão negra. Nunca fale nada, mantenha esse segredo secreto que travamos nesse momento: o quão nos amamos. Meu ônibus vem vindo, menino, tenho ainda que fazer-lhe um pedido: ao final de tudo odeie tudo que você amou, só assim você verá o que amou de verdade. Eu te amo com a mais forte necessidade do meu ser, adeus.

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