Quando naquele dia de sol poente, você de cabeça limpa, pequenas gotas de suor se acumularam em sua testa delicada. Você nunca secava as gotículas que se formavam em sua testa. Estávamos juntos de volta pra casa, mas não nos falávamos. Mesma língua, mesmo código, mesmo canal e mesmo sentimento, mas não conseguíamos entender a saudade um do outro. Você ao meu lado e eu não sabia o que dizer. Caçávamos palavras no chão cinza da calçada. Nosso amor já não falava mais um pelo outro, tínhamos agora uma dificuldade tão grande de entender o franzir de testa ou o colocar de mãos um do outro. Não sabia mais quando seus sorrisos eram de alegria ou de deboche. Fui acusado de mentiroso por não lhe contar que na verdade o que eu sentia era falta. Nós dois, naquela rua, indo pra casa, sem companhia e nos roendo de saudade. O tempo veio e pôs suas garras sobre nosso amor. Ele já não se defendia mais, e rendeu-se como as estrelam se rendem à lua. Que sede de teu suor. Eu poderia agora beber toda sua testa e nunca mais comer, só para guardar teu gosto, teu suor, tua testa. Tempo esse que golpeou nossa história agora insiste em manter uma montanha sobre meu peito. Peito que ainda guarda as marcas de teu rosto adormecido. Hei de morrer sufocado qualquer dia desses, meu peito pede teu ar e minha boca teu corpo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário