16.1.08

Quando se bebe o vômito. Clarice...

Clarice disse de sua obra, A Hora da Estrela, que ela era toda de um vômito, algo que precisava sair. E eis que agora eu digo: bebi. Assim como saiu, entrou. A força de seu vômito foi a mesma de minha língua a lamber cada pequeno volume desse vômito. Não me contive, e do áspero chão vomitado conheci também Macabéa. Essa pobre moça morta matou Clarice, matou seu pseudônimo e agora também me condena à morte. As sobrancelhas crispavam-se a medida que a língua esticava-se para beber Macabéa, e conhece-la foi o súbito que me levou até aqui, agora. A cabeça toda dói por conhecê-la, e por isso sinto-me um pouco embriagado demais de cansaço para poder filtrar todo vômito vomitado por Clarice. Mas, se devo ser seu súdito, não devo tentar entendê-la, e sendo assim só me resta sentir Clarice, Macabéa e seus vômitos... Pois também a personagem me vomita, e dela descobri existirem na ânsia da morte estrelas de mil pontas que ofuscam os olhos com sua luz...

Um comentário:

  1. Perdoe-me a intromissão, mas não pude me conter diante das palavras dedicadas e tão bem poeticamente registradas à Clarice, Macabéa e seus vômitos.
    Sou uma leitora assídua, ou melhor, alguém que tornou dos pensamentos Claricianos um vício diário e eterno.
    Gostei bastante do texto!
    Parabéns!

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